Cidadania e respeito ao Idoso


Nesta semana, o entrevistado da AGÊNCIA BRASÍLIA é o secretário Especial do Idoso do Distrito Federal, Ricardo Quirino. Ele fala sobre as ações realizadas nos primeiros quatro meses de sua gestão e os planos para inserir cada vez mais os membros da terceira idade na sociedade e no mercado de trabalho, dando dignidade e conscientizando os mais jovens sobre a importância de sua experiência.

Como surgiu o convite para que o senhor assumisse a Secretaria Especial do Idoso do Distrito Federal e como defini-la?
A Secretaria completa no dia 8 de dezembro quatro meses e o perfil é claramente o social. Assumimos a Secretaria a convite do governador, que tinha o desejo de criá-la há algum tempo e também por ser uma reinvindicação antiga dos vários grupos que trabalham com os idosos.

Qual foi o motivo do convite?
Eu já havia realizado trabalho com os idosos. Desde a Câmara dos Deputados, tenho apresentado projetos na área. Um deles garante incentivos fiscais às empresas que preencherem determinado número de vagas de seu quadro de funcionários com pessoas de mais idade. Ele tem o objetivo de valorizar o idoso no mercado de trabalho. Outro projeto aumenta em um terço a pena para quem usar de violência contra o idoso no ambiente doméstico. Esse é um projeto mais preventivo do que punitivo.

Como tem sido o trabalho de aproximação com a população idosa do Distrito Federal?
A Secretaria foi tomando esse perfil social. Uma secretaria cidadã, da comunidade. Ela está próxima ao idoso e à comunidade e deve estar próxima dos locais onde acontecem a violação dos direitos. Eu costumo dizer que dentro do meu escritório ninguém vai violar os direitos dos idosos, mas lá fora nos órgão públicos, nos transportes, dentro da própria casa, na comunidade, no dia a dia, eles são violados. Com essas informações, nós estabelecemos o primeiro programa importante: a Caravana da Solidariedade. Ela propõe levar a Secretaria à porta das pessoas.

E como a Caravana da Solidariedade funciona?
Nós mapeamos dentro de cada região administrativa alguns locais que passamos a visitar. Como resultado, começamos a detectar problemas sérios, que estavam longe dos olhos do Estado e passamos a encaminhá-los aos órgãos competentes.

E os idosos têm respondido ao chamamento da Caravana?
Agora mesmo, antes de nós começarmos a conversa, recebi uma ligação de uma senhora que estava tendo problemas com a filha. Nós já fizemos o encaminhamento para a Defensoria Pública, pois essa é a atitude que deve ser tomada.
Esta Caravana, que é um dos carros-chefes da secretaria, foi criada exatamente para isso: devolver ao idoso a dignidade batendo em sua porta e perguntando: “o que nós podemos fazer por você?”.

A Secretaria possui alguma parceria nesses projetos?
Estamos estabelecendo várias parcerias com outras secretarias, como, por exemplo, a Secretaria de Esporte. Nós começamos um trabalho de reciclagem, em uma comunidade do Varjão, também em parceria. Iniciamos um programa de inclusão social, em parceria com o UniCeub, em que indicamos idosos para realizarem cursos na área de informática, para desenvolverem a inclusão digital. Estabelecemos ainda uma parceria com a Polícia Militar, no programa Educs, e uma das atividades é a alfabetização. Também estamos em parceria com a Secretaria de Saúde no projeto Escola de Avós. Abraçamos esse projeto e estamos ajudando. Além disso, uma vez por semana nós vamos a uma região do Distrito Federal, onde exista um centro de convivência, e levamos assistência jurídica, orientações na área de saúde e atividades culturais. Nesses quatro meses, nós estivemos quase todas as semanas em um centro de convivência, em alguma Região Administrativa do Distrito Federal fazendo um trabalho bem próximo da comunidade.

Esse projeto faz parte da Caravana da Solidariedade?
Não. Esse trabalho é diferente da Caravana, em que nós vamos à porta da comunidade. Neste trabalho nós vamos a algum local, de preferência a um centro de convivência, realizar a assistência aos idosos.

Qual é o principal problema enfrentado com relação aos idosos? Ainda é a violência?
O maior problema hoje é social: o desrespeito, aquela visão de que o tempo passou para o idoso, que eles causam problemas e não têm mais nada a oferecer. A nossa maior luta é quebrar esse preconceito, por isso esta campanha de valorização do idoso. Para que a sociedade, especialmente a família, entenda que o idoso não é um peso que deva ser suportado, e sim alguém dotado de dignidade e que ainda tem muito a oferecer.

Como mostrar ao idoso que ele ainda pode ser útil à sociedade?
Respeitado o direito do idoso, ele sabe muito bem como se conduzir. A falta disso pode causar solidão, segregação, porque a partir do momento que uma pessoa se torna um peso e não serve para mais nada, acaba se segregando. Todos que passam por esse tipo de preconceito se sentem excluídos. Isso é psicologicamente terrível para eles, porque vão morrendo aos poucos.

O que pode então ser feito para conscientizar as pessoas em relação aos idosos?
No caso da vaga no transporte público para o idoso, as pessoas sabem que ela é reservada, ninguém pode dizer que se sentou sem saber, por isso tem que ser respeitado. Todas as pessoas que se sentam ali sabem que aquela vaga é reservada e às vezes até simulam que estão dormindo. Alguns motoristas de ônibus que arrancam antes de o idoso subir ou não param sabem que eles são protegidos pelo Estatuto do Idoso. Então é nosso papel fazer essa conscientização e é a partir daí que as pessoas vão passar a respeitar e também trabalhar para que outros respeitem. Assim diminuiremos a violência dentro de casa, o desrespeito no transporte público e tudo aquilo que incide diretamente sobre o idoso. Aprendendo a respeitar, se aprende a valorizar. O idoso não precisa de ninguém, ele sabe o que fazer.

Em relação ao mercado de trabalho: além do projeto que dá incentivos às empresas que contratarem idosos, o que a Secretaria tem feito para inseri-los no mercado de trabalho?
Sabemos que hoje falta mão de obra especializada e qualificada no mercado, isto é fato. Geralmente o idoso que quer voltar a trabalhar ou estender seus dias de trabalho é porque realmente precisa. Nós temos uma grande parte de idosos que não teve acesso nem à alfabetização. Estamos trabalhando exatamente nesses cursos profissionalizantes com parcerias de inclusão social para os que estão em situação mais vulnerável, para que possam desenvolver essa capacidade profissional e se insiram no mercado de trabalho de forma maciça, respeitando as limitações físicas em algumas situações. Mas a maioria dos idosos pode continuar trabalhando normalmente.

No próximo dia 7 de dezembro será lançada a Semana de Valorização do Idoso. O que se espera alcançar com essa ação?
Estamos com uma grande expectativa em relação a essa semana. A Secretaria vai realizar uma ação de conscientização, começando pela Rodoviária do Plano Piloto, sobre a importância de saber que o idoso não é somente o avô de cada um, não é uma pessoa para quem passou o tempo. Uma vez que o conceito de envelhecimento é diverso e genérico, nós vamos conversar com todas as pessoas e não só com os idosos, mas com os jovens e com os adultos, por meio de panfletos e cartilhas. No dia 8, teremos palestras falando sobre osteoporose e o processo de envelhecimento. No dia 9, iremos com dois grupos de idosos visitar algumas entidades de Brasília e no dia 10 vamos encerrar com uma caminhada simbólica, no Parque da Cidade, pelo Dia do Idoso, sempre conscientizando a população. A ideia é que essas ações façam parte do nosso calendário, para que todo final de ano nós façamos a semana de valorização do idoso.

O senhor diz que o idoso conhece bem seus direitos. Mas, em alguns casos ele fica coagido e evita formalizar denúncias. O que é mais fácil, incentivar o idoso a denunciar ou realizar um trabalho de conscientização com os mais jovens?
Eu acho que é mais fácil educar o cidadão, porque a prevenção é sempre melhor. O idoso passa por um conflito psicológico. Na maioria das vezes, a violência que ele recebe vem de casa, e como denunciar um filho? A nora? O genro? O neto? É ai que entram as questões afetivas e no fundo ninguém quer ver um familiar na cadeia. Quando o idoso chega a falar é porque ele já não aguenta mais e já chegou ao extremo. Um extremo que pode levar a morte. Por isso, acredito que seja mais fácil trabalhar na prevenção, para que evitemos que aquela violência se torne real na vida do idoso. Esse é o foco da secretaria, pois nós não queremos nenhum familiar atrás das grades, mas também não podemos permitir que o idoso sofra.

Cerca de 4% da População do DF é idosa, porém, com o desenvolvimento que vem ocorrendo e com as mulheres brasilienses tendo filhos mais tarde, essa população envelhecerá. Como a Secretaria do Idoso pode ajudar a preparar essas gerações para envelhecerem no futuro?
Acho que a melhor forma de a pessoa envelhecer com qualidade é tendo acesso à informação. A partir do acesso a informações básicas, ela começa a desenvolver uma outra mentalidade. Isso é o que nós não tivemos infelizmente. Isso não é só no Brasil, mas no mundo todo. A sociedade só está acordando para a questão do envelhecimento há dez, quinze anos. A população idosa começou a crescer no mundo todo e no Brasil não será diferente. Nos últimos oito anos, foi possível ver, com as ascensões de classes, aumento do poder econômico e mais acesso a informações. Assim, os idosos passam a cobrar mais seus direitos e terem um envelhecimento saudável. Hoje, nós temos idosos que querem participar da vida pública e até de áreas mais críticas, que discutem política, o futuro do país e fazem leis que são aprovadas. E querem participar estando presentes na sociedade de forma efetiva. Esse é o grande resultado desse processo que está acontecendo em todo o mundo.

O que esperar da Secretaria do Idoso para os próximos anos?
Temos uma agenda pré-aprovada para o ano que vem. Chegamos bem próximos ao final do ano com uma agenda ainda em andamento e eu creio que 2012 será o ano da Secretaria do Idoso, marcada por ações positivas, com parceiros que virão e que já estão vindo. Aquele idoso que é o alvo da secretaria terá política pública a seu favor e se sentirá grato e feliz por conta da criação desta Secretaria.

Fonte: Suzano Almeida, da Agência Brasília
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