Entrevista - Secretário do Idoso Ricardo Quirino
Após quase dois meses desde que assumiu a Secretaria do Idoso, Ricardo Quirino já começou a colocar em prática vários projetos direcionados aos quase 200 mil idosos que vivem no DF. A pasta, criada por decreto, ainda não tem orçamento próprio e não está completamente estruturada, o que dificulta a programação de trabalho. “Mas não inviabiliza”, garantiu Quirino. Hoje, a secretaria funciona com 18 pessoas, mas o projeto é que este número suba para 60. Uma das idealizadoras da pasta, a primeira-dama, Ilza Queiroz, é um apoio de peso. “Ela está mais ativa do que nunca. É uma parceira fiel”, resumiu o secretário. Na entrevista a seguir, Ricardo Quirino fala sobre os projetos prontos para sair da gaveta, os principais desafios, as parcerias já firmadas com as demais secretarias e relatou dificuldades encontradas neste primeiro momento. O secretário também afirmou não sentir saudades da Câmara dos Deputados – ele ocupou interinamente um assento no Parlamento, mas teve de sair no fim de julho para dar lugar ao titular da vaga, Luis Pitiman (PMDB), que deixou a Secretaria de Obras do DF.
A secretaria ainda não tem dotação orçamentária e nem uma estrutura robusta. O senhor tem encontrado dificuldades em colocar a programação em prática?
Quando recebemos o convite do governador Agnelo Queiroz já sabíamos que a secretaria não teria dotação orçamentária porque foi criada por decreto. Então eu seria até injusto com o próprio governador e a sociedade de reclamar de falta de recursos.
Hoje a secretaria funciona com quantas pessoas?
Hoje são 18 pessoas. Uma quantidade ainda pequena para tocar o trabalho. Vamos voltar com o Disque Idoso para denúncia, mas ainda não temos pessoal suficiente nomeado. Hoje, já funciona o Disque 100, mas queremos o nosso. A ouvidoria também ainda carece de pessoal. Estamos atendendo todas as demandas na secretaria, mas queremos uma ouvidoria para dar mais celeridade. Estamos aguardando a nomeação pelo GDF dos nomes que apresentamos. Quando ela estiver totalmente formada, dentro do projeto que foi pensado, serão cerca de 60 pessoas. Então, ainda estamos bem aquém do que pensamos para fazer um trabalho de excelência no DF.
Há alguma previsão para que tudo seja definido?
A nossa estrutura já foi aprovada, mas algumas nomeações estão pendentes, o que nos traz certa dificuldade para trabalhar. Estamos tocando o barco, sem olhar para as dificuldades. Devemos ir para um prédio no SIA, acredito que no trecho 2, onde será alocada a secretaria e algumas outras.
A primeira-dama foi uma das idealizadoras da pasta. Ela tem contribuído de alguma forma?
Temos conversado sobre isso e teremos um encontro na próxima semana para discutirmos alguns pontos relacionados à saúde do idoso, porque ela é médica. Vamos conversar sobre algumas idéias que ela tem e também passar o que já temos. Ela está mais ativa do que nunca, uma parceira fiel.
Diante da estrutura limitada, neste momento as parcerias com outras secretarias são alternativas?
As parcerias são sim fundamentais. Estamos ligados à Secretaria de Governo, que tem dado todo o apoio para nós. Realizamos, por exemplo, a 3ª Conferência Distrital e a Secretaria de Governo foi importante na divulgação do material e na estruturação. Claro que gostaríamos de ter a nossa própria dotação, mas isso no momento certo vai ser realizado. Há dificuldades,mas o trabalho não é inviabilizado.
Quais as secretarias onde já existem conversas visando o interesse os idosos?
A primeira secretaria que me procurou foi a do Esporte. Nós estamos com alguns projetos já delineados. Um deles é para que nas vilas olímpicas haja um espaço específico para os idosos, com tratamento de profissionais de educação física. A Secretaria do Meio Ambiente também nos propôs parcerias para que dentro dos parques que estão sendo formados haja um espaço para o idoso. O secretário Eduardo Brandão sugeriu até a figura do agente ambiental, que seria um idoso que mora perto do parque. A Secretaria de Defesa Civil também já se mostrou totalmente acessível e abriu as portas para trabalharmos juntos. Conversei com a secretária de Desenvolvimento Econômico, Arlete Sampaio, sobre políticas de integração e de que maneira a Sedest pode colaborar. As secretarias com as quais já tive contato com o próprio secretário abriram as portas e estão dispostas a ajudar.
E na área de transporte, há algum indicativo?
Ainda não estive com o secretário de Transporte, José Walter Vazquez, mas o respeito na área de transporte é fundamental. Muitos não respeitam os assentos reservados. Há motoristas que não param quando veem idosos ou não os esperam subir no ônibus. Já estava sendo feita uma campanha de conscientização pela Secretaria de Justiça. Vamos dar prosseguimento a ela. Como disse, o grande desafio é quebrar o preconceito. E, assim, os direitos serão respeitados. Conversei também com o secretário de Habitação, Geraldo Magela, que abriu as portas. Já me prometeu que tudo o que está no Estatuto do Idoso será cumprido no que diz respeito à habitação no DF. As secretarias de Trabalho e Saúde também serão parceiras. As administrações também estão se mostrando abertas, sobretudo a Administração de Taguatinga.
De forma geral, a secretaria tem sido bem aceita, mas o senhor também tem encontrado resistências?
É claro que a gente vai encontrar problemas, como eu já encontrei. Tem sempre aquele grupo que já faz um trabalho com os idosos e questiona muito. Mas isso faz parte. Mais cedo ou mais tarde vão estar conosco. Da parte do governador, ele está muito animado.
Hoje, quais são as principais dificuldades que o senhor já conseguiu vislumbrar à frente da secretaria?
As políticas para o idoso estavam muito descentralizadas. Cuidavam deles várias instituições. A Subsecretaria do Idoso fazia parte da Secretaria de Direitos Humanos e trabalhava em uma frente. Instituições de longa permanência que estão ligadas à Secretaria de Desenvolvimento Social também têm atuação. Temos os centros de convivência do idoso, onde uma grande parte é formada por voluntários, sem ligação com o governo. Tem ainda outras instituições .Há um quadro de pessoas que faz um trabalho bom. Temos o desafio de integrar tudo isso, reunir todas essas forças para trabalharmos juntos. Ainda não tive tempo de conversar com todas as associações, centros e voluntariado, mas isso não significa que estão desprezados. Pelo contrário, nós precisamos deles.
Além da integração, há outros tabus a serem quebrados?
Seria a quebra do preconceito. A sociedade ainda vê o idoso como muito dependente e o isola. O jovem, por exemplo, acha que não pode ir a determinados lugares com o idoso, a família acha que ele é um peso. Então, o idoso começa a se sentir isolado e se retrai. E como fazer para que os direitos deles sejam respeitados? Temos o Estatuto do Idoso. Se conseguíssemos aplicar com eficácia 10% do que está no estatuto, a vida do idoso já seria muito boa. O Artigo 22, por exemplo, fala que nos currículos das escolas devem ser inseridos conteúdos voltados ao respeito e à valorização dos idosos.
E o que é possível fazer para dar efetividade?
É preciso fazer uma parceria com a Secretaria de Educação. Ainda não tive com o secretário de Educação, Denilson Bento, porque houve a troca de secretário. Mas já havia conversado com a (ex-secretária) Regina Vinhaes.
Quais são os projetos prontos para sair da gaveta?
Primeiro, na área social. Vamos fazer a caravana da solidariedade,com o título ‘Idoso, a dignidade bate à sua porta’. Já há muitos parceiros, como funcionários das áreas médica, jurídica e social. Vamos fazer um mapeamento das regiões mais carentes do DF. E, de mês em mês, visitar essas pessoas.Vamos fazer um raios-X mesmo. Será o governo batendo na porta dessas pessoas e dizendo: ‘Eu estou aqui. Posso ajudar?’
Nesses mapeamentos, vamos saber todas as dificuldades, problemas na área médica etc. Dentro desta programação,iremos encaminhá-las para resolver os problemas. Estou animado com este projeto. No mês de outubro, vamos visitar o Varjão para que possamos dar mais celeridade às necessidades das pessoas.Os idosos que mapearmos que não souberem ler, por exemplo,vamos encaminhá-los direto para o projeto do governo DFAlfabetizado.
A idéia é integrar os idosos com as políticas públicas do governo?
Sem dúvida. A Secretaria de Saúde desenvolve um projeto chamado Escola de Avós, em que uma vez por mês uma unidade educacional faz uma ação global para atender os idosos da comunidade. Nós já abraçamos o projeto, que hoje trabalha só com voluntários. Eu levei para o governador e ele gostou muito. Então, vamos ampliá-lo com parcerias também com a Secretariade Educação e universidades, para que em todas as unidades sejam inseridas. Tem ainda os projetos de inclusão social.Tivemos conversas com algumas instituições de Ensino Superior para efetivar a universidade da terceira idade. O projeto já existe , só falta acontecer. Outro projeto é reestruturar os centros de convivência do idoso. Queremos fazer um centro de referência onde não só os idosos se concentrem por que não têm o que fazer, mas que eles possam ajudar a sociedade, passando suas experiências. Terá atendimento médico, jurídico e cursos de alfabetização.
O senhor já tem muitas propostas...
Mas tenho também um desafio próprio, que é a inclusão dos idosos no mercado de trabalho. A expectativa de vida melhorou em todo o mundo. O idoso que, há 20 anos, chegava aos 65 anos estava realmente em um processo de dependência muito grande. Hoje, o idoso é proativo e quer trabalhar. Boa parte deles sustenta, inclusive, o orçamento familiar. Então, outro dos nossos projetos é a qualificação do idoso. Eu tive conversas na Secretaria do Trabalho sobre o Qualificopa. Os idosos vão ter preferência, como diz a lei. A gente conseguir qualificar o idoso, que não teve acesso à informação, ou aquele que quer apreender um pouco mais não é um processo a curto prazo, mas vamos conseguir. Na Câmara dos Deputados apresentei uma proposta, em 2009, para que a empresa que quiser preencher o seu quadro com até 5% de idosos possa receber alguns benefícios.
O senhor sente falta da Câmara dos Deputados?
Não diria falta. Os trabalhos são bem diferentes. Claro que aprendemos nos dois lados, mas no Executivo estou tendo a oportunidade de estar mais próximo das pessoas e ouvir mais. Não há nada que pague isso. No Legislativo, geralmente não são demandas voltadas para o lado social, são demandas de grupos específicos. No Executivo, a cobrança é maior.
Então, o senhor acredita que, como secretário, pode ser mais atuante?
No Executivo, é mais fácil. Costumo dizer que no Legislativo se aprende a ter paciência porque se trabalha com um futuro. Você apresenta uma idéia, um projeto de lei, faz um seminário para algo que será discutido e pode ser que lá na frente vire uma ação. No Executivo, é tudo para já. As pessoas estão muito mais próximas, até porque o Executivo tem que fazer, tem que dar a resposta. Então, é mais fácil colocar os projetos em prática.
Fonte: Jornal de Brasília
Edição : Socorro Araújo
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