“Nunca foi tão fácil chegar a uma Olimpíada!” assim Maria Helena Cardoso resumiu no twitter a conquista da vaga em Londres. Técnica da seleção na missão frustrada na Malásia em 1988 e na dramática e inédita classificação para Barcelona, em 1992, ela sabe muito bem do que está falando.
Embora muita gente tenha se concentrado na fragilidade dos adversários, acho que é evidente que alguma coisa mudou. Para melhor.
Em 1999, perdemos para Cuba no Pré-Olímpico, mas haviam três vagas em disputa. Em 2003, vencemos Cuba e conquistamos a vaga única. E em 2007, queda diante de Cuba na semifinal e a vaga acabou vindo contra a mesma Cuba– novamente de forma dramática – no Pré-Olímpico Mundial-2008.
Assim, essa última conquista realmente me parece digna de comemoração, ainda mais quando se contextualiza o momento em que ela ocorrre.
O torneio marcava a estreia de um técnico sem experiência no feminino e desacreditado pela maioria – por mim, inclusive.Enio Vecchi se comportou muitíssimo bem. A defesa melhorou incrivelmente e parece ser esse o caminho num time de alas pouco produtivas no ataque. Ofensivamente, houve mais equilíbrio, menos chutes de três e individualismo. Emocionalmente o grupo também pareceu melhor. Menos apático do que no Mundial de 2010 e menos oscilante do que de costume.
Além de Enio, acho que seus auxiliares merecem o reconhecimento. Tenho minhas reservas a Urubatan, mas enfim: parabéns! Gosto muito do trabalho de Janeth. Na semifinal contra Cuba, foi possível ouvir a voz ao fundo da assistente durante um tempo técnico em que Micaela reclamava da dificuldade de conter a adversária. “Mas ela é muito rápida!” dizia a ala. Serena, Janeth apenas tranquilizou Kaé: “Mas você é tão rápida quanto ela”, no que me pareceu um gesto bastante nobre.
Acho que merece crédito ainda o trabalho de Hortência. Depois de um começo um tanto quanto confuso, parece que aos poucos, a diretora das seleções femininas se encontra mais na nova função. Que a evolução persista!
Entre as jogadoras, acho que o torneio sela uma nova fase para Érika com a camisa amarela, na qual a sua importância é reconhecida, aceita, admirada pelo grupo e mesmo por Hortência. Mal aproveitada na era Barbosa, ausente na era Bassul e um corpo estranho na era Colinas, a pivô deixou claro em Neiva sua explosiva combinação de força e talento.
Tão brilhante como Érika, esteve Adriana, talvez em sua melhor participação na seleção. Esteve firme, jogou com extrema inteligência e parece ter afastado do semblante o desgate e a decepção de suas últimas penosas participações com a seleção nas Olímpiadas -2008 e no Mundial-2010.
Sinceramente não consigo avaliar Babi pelo pouco que vi no Pré-Olímpico, embora ela tenha me impressionado bastante no amistoso em Americana. De qualquer maneira, é fundamental pensar à frente nessa posição e a comissão técnica parece estar atenta a isso.
O cenário no garrafão parece mais confortável. Além de Érika, as demais pivôs apareceram muito bem. Clarissa é daquelas jogadoras que dão prazer em ver jogar. Infelizmente uma contusão tirou parte do seu brilho no torneio. Damiris está esplêndida e é realmente um milagre ver uma jovem alcançar o nível que ela belisca aos 18 anos num país que oferece muito pouco aos seus talentos. Gostei de ver Gilmara tendo sua primeira oportunidade, mas acho que com a boa fase de Clarissa, a tendência é que ela tenha menos espaço. Acho a dupla Nádia e Franciele fantástica, mas as duas parecem carecer de alguma coisa para entrar em combustão espontânea. De longe, a impressão que tenho é que algo entre a confiança e a concentração às vezes escapa pelas mãos das duas jovens.
Nas alas, é que o nó aperta. A situação é complicada e não vejo muitas saídas para a Olimpíada que se aproxima.
Acho que a receita será reincorporar Iziane e tentar alguma novidade, o que é muito difícil, pois o universo de convocadas está extremamente limitado. Reconheço que a comissão técnica tentou. Viu Tatiane, Fernanda, Izabela, Karen, Jaqueline, deu uma chance para Natalia Santos… Janeth observou outras tantas atletas na Universíade, mas verdade difícil de admitir é que há poucos nomes.
Chuca foi a presença mais regular na posição, o que não quer dizer muita coisa.
Reconheço o esforço de Palmira, principalmente na defesa, uma de suas deficiências. Colaborou bastante ainda na transição, dando um repouso a uma sobrecarregada Adriana.
Micaela continua tendo seus bons momentos na defesa e Enio soube dosar bem as oportunidades dela, sem que comprometessem o todo. Mas a ala vive uma falta de sintonia absoluta no ataque.
Por fim, Silvia Gustavo desapareceu após uma virose durante a Copa Pitalito.
Espero que ao menos uma novidade seja incorporada ao grupo daqui para a frente. Tássia talvez seja a mais gabaritada. Se a opção for por veteranas, não entendo a ausência de Silvinha Luz na equipe.
Vaga conquistada, a hora é de viabilizar a segunda edição da LBF e planejar 2012. Sem isso, esse otimismo momentâneo logo desaparecerá.
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