O uso exagerado do computador por crianças e jovens sempre foi motivo de grande preocupação. Mas engana-se quem acredita que a internet é um hábito exclusivo dessa faixa etária. Atualmente, são os idosos que passam mais tempo conectados em casa. Segundo a pesquisa NetView, da Nielsen Ibope, o tempo de uso do computador domiciliar com internet já é maior entre os idosos brasileiros do que entre os jovens.
De acordo com o levantamento de outubro do ano passado, pessoas entre 55 e 64 anos de idade registraram média individual de tempo de 53 horas e 12 minutos no mês. No mesmo período, o tempo médio no computador domiciliar de jovens entre 12 e 17 anos foi de 30 horas e 30 minutos.
Quem não abre mão de estar bem informada é a irmã Maria Isolda Holanda, 95 anos. Ela fez aulas de informática durante o ano passado inteiro para acompanhar as novas gerações e conta que antes disso nunca havia tido contato com a internet. “Mas quando a oportunidade apareceu, pude matar minha curiosidade e usufruir das facilidades proporcionadas pelo computador. Já usei mais a internet. Atualmente, fico umas duas ou três horas. Tenho Facebook e e-mail, por onde me comunico com minhas amigas", conta.
Filtro
De acordo com Isolda, é importante filtrar o conteúdo acessado. "Os idosos possuem muito tempo livre e a internet é uma excelente forma de entretenimento. Mas é preciso saber descartar o que não acrescenta e buscar informações positivas. Leio jornais e também adoro as mensagens religiosas que recebo nas redes sociais", conta.
A irmã não se contentou apenas com a internet. Recentemente, ela ganhou um celular e provou que está totalmente inserida no mundo dos produtos modernos. "Utilizo tranquilamente todas as funções do celular e consigo me aproximar mais dos jovens, pois faço parte do universo deles", comemora.
Relações sociais
Para a psicóloga Enila Chagas, 76 anos, desfrutar das enormes possibilidades que a internet oferece é uma experiência válida em qualquer idade, mas que, assim como em qualquer outra atividade, precisa ser moderada e equilibrada. "A praticidade e os benefícios são inúmeros, porém as relações sociais não podem se resumir apenas a uma aproximação virtual", alerta.
Primeiro contato não é fácil
O primeiro contato com o computador nem sempre é fácil. A psicóloga Enila Chagas, 76 anos, conta que teve muitas dúvidas e algumas dificuldades. "O interesse pelo computador sempre existiu, mas no começo precisei de ajuda dos meus netos para aprender direito”, conta.
Mas, atualmente, as coisas são diferentes. “Hoje, não fico uma semana sem me conectar e acompanho tudo o que está acontecendo no mundo. Leio jornais, envio e-mails, baixo livros e artigos, participo das redes sociais e também utilizo muito os sites de pesquisa”, conta.
Exercício da mente
A psicóloga diz que, como ainda exerce a profissão, acha fundamental estar por dentro de tudo. “Acredito que exercitar a mente é essencial em qualquer idade", diz.
Saiba Mais
A pesquisa NetView, da Nielsen Ibope, constatou ainda que o número de páginas vistas e o número de sessões por mês também é maior entre os internautas de mais idade. Em outubro, o público de 55 a 64 anos foi ao computador em média 48 vezes no mês, enquanto a faixa de 12 a 17 anos somou 20 sessões por pessoa. O grupo de 55 a 64 anos representa 8,1% do total de 46,7 milhões de usuários ativos domiciliares. Os adolescentes de 12 a 17 anos, representam 11,8%. Os sites mais acessados pelos brasileiros da melhor idade são as ferramentas de busca, redes sociais, sites de vídeos, portais, blogs, email e notícias.
Eles mostram capacidade
Apesar da alta adesão ao acesso à internet, tem gente que acaba adiando essa introdução por receio. É o caso da aposentada Ivonice Josefa da Cruz, 80 anos. Ela demonstrou resistência para aprender a usar o computador no início. Depois, com o incentivo de duas professoras de informática que se dedicam a ensinar idosos, a ex doméstica aprendeu a fazer o básico para garantir sua diversão.
"Adoro os sites com vídeos, passo o dia inteiro ouvindo música pelo computador e assistindo aos artistas que eu gosto. Ainda estou aprendendo, mas já sou capaz de escrever até e-mail. A internet está me ajudando a aprender a ler e escrever, que sempre foi o meu maior desejo", afirma Ivonice.
O domínio de todas as funções e possibilidades da internet pelos mais velhos mostra a capacidade que o idoso tem de se adaptar e estar incluído em todos os grupos, garante a geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Nacional, Ana Lúcia Vilela. Ela diz que a inclusão digital é fundamental para a rotina do idoso.
Dispositivos móveis
Ao observar a pesquisa da Nielsen Ibope, que aponta um maior número de horas de internet entre os idosos, porém, é importante frisar que, além de teoricamente permanecer um tempo maior em casa em relação aos adolescentes, os idosos também têm mais dificuldades com os dispositivos móveis, que são mais utilizados pelos jovens.
Pense Nisso
O primeiro passo para se conectar é ter consciência de que, em qualquer idade, é possível aprender. Muita gente mais velha ainda não encara a internet por acreditar que isso é coisa de gente jovem. Mas a pesquisa prova o contrário. Porém, é preciso que os mais novos tenham paciência, deixem o preconceito de lado, e mostrem-se disponíveis para ensinar. Com isso, eles darão a oportunidade para que mais pessoas explorem um novo mundo por meio da rede virtual.
Uso deve ser monitorado por familiares
A geriatra Ana Lúcia Vilela lembra que a modernidade atingiu não apenas os computadores, mas também os celulares, os caixas eletrônicos, os eletrodomésticos e outros produtos que fazem parte do cotidiano. “Ter um idoso antenado é provar para todos e para ele mesmo a sua habilidade. É importante para a autoestima deles”, explica.
Ela diz ainda que, quando está conectado, o idoso está exercitando e estimulando o cérebro, lutando contra a demência natural da idade, se aproximando de pessoas mais jovens, se mantendo informado e ativo, fugindo da exclusão e com a possibilidade de opinar, palpitar e participar de debates e discussões atuais. Para ela, a internet é uma grande ferramenta de entretenimento e informação, mas deve ser usada com consciência. “Por falta de ocupação, alguns idosos acabam se viciando em jogos. A dependência acontece por falta de atividades diversificadas. Outro ponto importante é o conteúdo visto, pois na internet tem muita futilidade e as horas, que poderiam estar sendo bem aproveitadas, são desperdiçadas com bobagem”, alerta.
É preciso observar
De acordo com Ana Lúcia, a família deve observar as possíveis mudanças de hábitos. “O problema é comportamento compulsivo. Então, se o idoso começar a deixar a vida social de lado para dar muita atenção ao computador e aparecer mais deprimido é hora de intervir. A pessoa não pode ficar só em casa, ela precisa sair e manter os relacionamentos sociais. Nada que impeça o idoso de realizar outras atividades é saudável”, informa.
Segundo a psicóloga Janaina Gomes, outro risco associado ao exagero e obsessão pela internet na terceira idade são os problemas financeiros. "Muitos idosos passam a comprar compulsivamente em sites específicos e transformam o lazer em vício, podendo desenvolver um quadro depressivo. Desde que com muito equilíbrio, a inclusão é bastante positiva", completa Janaina.
Fonte: Jornal de Brasília
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