Dona Epifânia: tatuagem e alegria de sobra


Sou feliz porque dou para Vicente e toda gente, para Raimundo e todo mundo... a paz de Cristo, meu filho”. Com essa frase e um sorriso no rosto Epifânia Maria de Jesus Mendes, a dona Pifa, de 96 anos, recebe a reportagem do Jornal de Brasília na casa de seu filho Aleixo Mendes de Carvalho. Ali, ela se sente à vontade para contar como fez da dificuldade força para sair da cidade de Correntina (BA), até Goiânia (que estava em construção), montada em mulas e cavalos, com dois filhos e alguns pertences.

A desbravadora está sempre a postos para curtir a vida, seja na balada ou entre amigos. Apreciadora da alegria, aos 90 anos ela recebeu um presente dos filhos (ao todo foram 19 crias, mas apenas sete estão vivos): uma tatuagem. E, do neto famoso, Engels Espíritos, ganhou a música Baião da Pifa.

“Quando saímos de Correntina tínhamos vários cavalos, mas só os burros chegar até Goiânia. Passávamos o dia caminhando e à noite parávamos para conversar e cantar perto da fogueira”, conta dona Pifa.


passagem pela atual capital goiana deixou boas lembranças. Epifânia conta que trabalhou no Palácio das Esmeraldas, onde cuidava da roupa dos governantes, e que, ali, conheceu a primeira-dama dona Gercina Ludovico, esposa do então governador Pedro Ludovico. “Ela se importava com o povo”, conta dona Pifa, que, em 19 de abril de 1958, chegou a Brasília, para ajudar na construção da cidade.


Dona Pifa conta que logo que chegou ao DF foi direto para a Rua da Bica, na Candangolândia. “O pessoal da Novacap disse para a gente escolher uma casa para morar por ali mesmo”, diz. Em tempos de construção, Epifânia lembra que a vida não era fácil, mas sua dedicação aos filhos ajudou a erguer a Capital da Esperança. “Eu levantava bem cedo, às 5h, para buscar o pão e o leite para meus filhos. Todos eram funcionários da Novacap”, conta. Ela também ia a um matadouro, onde ganhava miúdos e pedaços de costela, para fazer o almoço.

Em Brasília, Pifa conheceu a modernidade. “Eu quase não via carros. Só vim conhecer TV, avião e fogão a gás aqui, pois só havia duas classes sociais: a rica e a pobre. Quando inauguraram a cidade, as pessoas não acreditavam na grandiosidade do que tínhamos feito”, recorda ela, que não tem prédio ou local preferido na capital. “Gosto de tudo. Até dos governantes”, jura.

Com a cidade estabelecida e os filhos em boa situação, Pifa passou a gostar mais da vida. Baladas e uns “golinhos” faziam a alegria da senhora, que nasceu próximo a um alambique. “Quando minha mãe começou a ter problemas de saúde, cortamos algumas coisas, como o cigarro que ela fumou por quase 70 anos, mas não dava para cortar a bebida, porque era o prazer dela. Às vezes, um vinhozinho vai bem. Quando ela exagera a gente dá uma freada”, conta o filho Aleixo, ao lado do irmão Miguel Mendes Neto, o Perereca, ex-jogador do Vila Nova.
Os filhos contam que Pifa não é fácil de acompanhar. Por conta do embalo da vovó, Aleixo teve que deixar de beber. “Eu acompanhei minha mãe a vida toda por todo o canto, mas chegou uma hora que não deu e eu pedi arrego”, fala.
Ao fazer 90 anos, dona Epifânia fez um pedido nada comum para a idade: uma tatuagem. “Olhamos um para o outro e pensamos: ‘Por que não? Ela já viveu tanta coisa’ e demos todo apoio”, lembra Aleixo.
Vaidosa, a vovó corre para o interior da casa para trocar de roupa e mostrar o desenho que fez na coxa esquerda. E ainda ganhou a música de Engels Espíritos, que não raramente, acompanha nos shows. “A melhor coisa do mundo é ser feliz.”
Dona Pifa afirma que, em seu tempo, as dificuldades eram maiores, mas que não se via tanta violência como hoje. Para ela a culpa dos males que assolam a capital e o País vem das drogas. “Quem trouxe isso foram as drogas. Tem que cercar tudo e colocar na cadeia”, desabafa a idosa, que completa: “Peço para que acabem com as drogas”.
 


Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br
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