Retrato da maturidade


   Pesquisa revela onde mora, quanto ganham e como vivem os idosos da capital federal


Com seus 53 anos, Brasília é uma jovem senhora. Quando nasceu, tornou-se a morada de uma geração que veio em busca de prosperidade no centro do país. Hoje, a capital entrou na maturidade e a imensa maioria de seus pioneiros chegou à terceira idade. Uma radiografia completa dessa faixa da população está no Perfil dos Idosos no Distrito Federal, segundo as Regiões Administrativas, elaborado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). O estudo, ao qual VEJA BRASÍLIA teve acesso, revela que a população candanga com mais de 60 anos atingiu 326 000 pessoas, o equivalente a 12,8% do total de habitantes

Esses e outros dados foram obtidos a partir do cruzamento de estatísticas da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), de 2011. Com essas informações, é possível entender melhor o segmento que cresce a cada ano com a expectativa de vida em franca elevação no DF. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela deve saltar dos atuais 77,3 anos para 80,8 em 2030.

De trinta regiões administrativas pesquisadas, a maior parte dos idosos está concentrada no Plano Piloto e em Ceilândia. O Lago Sul tornou-se uma espécie de Copacabana do cerrado. No bairro mais nobre do DF, 30,1% pertencem à turma dos mais experientes, bem mais do que o total de Brasília (21,9%) e o número do Lago Norte (19,8%). No outro extremo está a Estrutural. Com a menor renda per capita da capital da República, a cidade é também a que menos abriga idosos. 


 A renda média de quem passou dos 60 no DF é 2 369,80 reais, praticamente 80% acima do que ganha, em média, o conjunto total de moradores da nossa região (1 318,85 reais). Os idosos mais abonados estão no Lago Norte (7 245,12 reais), Lago Sul (6 783,66), Sudoeste (5 768,22) e Park Way (5 586,12). Os que vivem com rendimentos mais modestos têm endereço em Itapoã, Recanto das Emas e na Estrutural.

Vilmar Coimbra e a mulher, Ana Laura Coimbra, são a materialização do que o estudo da Codeplan mostrou em estatísticas. Ele é dentista aposentado. Ela, dona de casa. Os dois moraram muitos anos na Asa Sul, mas quando a rotina ficou menos agitada resolveram empenhar as reservas para viver com mais conforto na QI do Lago Sul. “Não há lugar melhor em Brasília. É muito tranquilo, silencioso, o trânsito é menos caótico, tem supermercado, igreja e amigos por perto”, cita Coimbra. 

Para boa parte dos idosos do DF, o horizonte a partir dos 60 é o descanso. De cada dez que atingiram essa idade, seis estão aposentados. Os pensionistas representam menos de 10% e cerca de 12% são classificados como “do lar”. Um grupo de 14,9% permanece na ativa. A maioria é formada por mulheres, mora nas regiões mais pobres, como Varjão, São Sebastião e Itapoã, e faz serviços domésticos. Aposentados ou na ativa, os senhores superam os rendimentos das senhoras em até 52,9%.
A terceira idade tornou-se atrativa para o setor empresarial e alvo de políticas públicas na esfera governamental.

Ligada à Casa Civil, a Secretaria Especial do Idosos do DF coordena projetos como os Centros de Convivência para Idosos (CCI). Ao todo, há dezesseis unidades. A meta é uma unidade em cada dez região administrativa. Nesses endereços, às vezes compartilhados com postos de saúde, o governo dispõe de profissionais como psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, advogados e professores de educação física para dar orientações nas suas especialidades. Segundo o secretário do Idoso, Ricardo Quirino, uma das diretrizes de sua pasta é capacitar os mais velhos para que possam se manter no mercado de trabalho. “As pessoas estão vivendo mais e melhor, querem continuar na ativa, mas nem sempre têm as ferramentas”, diz Quirino. Recentemente, a secretaria formou a primeira turma com 100 alunos de inclusão digital. O gestor alerta, no entanto, para o fato de o orçamento anual da pasta, de 4 milhões de reais, ser insuficiente para a demanda.


Entre os aspectos da terceira idade do DF, que poderiam ser diferentes com a ação do poder público, está o índice de analfabetismo registrado nessa parcela da população. De acordo com o estudo da Codeplan, do grupo de analfabetos remanescentes da capital da República nada menos que 60,4% têm mais de 60 anos. Somam 55 420 (17,6%) os idosos considerados analfabetos funcionais – aqueles que, embora saibam associar letras e fonemas, não dominam a interpretação de texto simples. Como 33,5% dos idosos possuem apenas o ensino fundamental incompleto, pode-se concluir apenas o ensino fundamental incompleto, pode-se concluir que mais da metade (51%) teve pouco acesso a escolas.


Os idosos convivem com outros problemas típicos dessa faixa etária. Em uma etapa da vida que requer cuidados médicos, muitos não têm acesso a planos de saúde. Do total de moradores do DF com mais de 60 anos, 57,8% não estão amparados pela rede privada. Entre os 42,2% detentores de plano, mais uma vez revela-se um fosso. No Lago Sul, nove em cada dez recorrem aos hospitais particulares. Na Estrutural, apenas 1,5% desse público mais vulnerável tem essa proteção. É a Copacabana do cerrado versus a favela do planalto.

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